Abraço

Que sensação única é a de um abraço, não é mesmo?! Uma pena ter se tornado um gesto que para alguns é automático e sem significado. Mas de certo modo não os julgo, pois é melhor um abraço sem significado e de apenas cumprimento do que nenhum abraço. 

Quando bebês o abraço é a certeza de que não vamos cair, quando crianças o abraço é o gesto de mais profunda sinceridade para dizer o mesmo que com palavras significa amar ao outro, quando adolescentes o abraço é o resultado de uma explosão de sentimentos e euforia que precisam ser compartilhados, já quando jovens o abraço muitas vezes quer dizer cumplicidade ou parceria, até que quando adultos o abraço se torna a uma mescla de todos os outros, com o entendimento e a vontade de aproximar dois corações que de qualquer modo partilham algo em comum, a necessidade de extinguir espaços desnecessários. E terão os abraços que você daria tudo para tê-los mais uma vez, só mais uma, mas estes serão os abraços memoriais, já não mais alcançáveis.

Infância

Porque será que deixamos de ver as coisas com a simplicidade que tinham quando éramos crianças? A felicidade de brincar na chuva, encontrar desenho nas nuvens ou nas estrelas, fazer mapas na areia, contar passos, brincar até ralar o joelho, falar com amigos que só existiam na nossa imaginação, usar uma capa e se sentir um super-heroi, usar uma sandália e sentir que ela era desnecessária. Incrível como a maioria de nós já falou alguma vez na infância que queria "ser grande" (adulto), que queria poder andar por aí sem ter que dar explicações, viajar sem ter que ser só com a família, comer sem ter que ser tudo saudável. Temos uma mente tão imaginativa sobre aquilo que não vivemos ainda, que na maioria das vezes a conquista não nos traz a felicidade tão esperada. Certa vez li que planejar é mais interessante do que realizar, mas também ouvi recentemente que comemorar cada passo do caminho pra realização é mais importante do que simplesmente chegar no ponto final. Contudo o interessante mesmo é conseguir enxergar as coisas como elas não são, como só você pode ver, seja criativo.

Nem sempre

Nem sempre conseguiremos ser aquilo que nós queremos, nem sempre o dia vai estar na temperatura perfeita, nem sempre a chuva vai conseguir molhar todos, nem sempre as lagrimas serão suficientes pra acabar com a dor, nem sempre a vontade de viver estará lá, nem sempre identificaremos como justo aquilo que aos olhos de outros é, nem sempre os dispositivos funcionarão, nem sempre dará pra sorrir, nem sempre dará pra ser feliz, nem sempre dará pra gente ser a gente, nem sempre dor vai ser o mesmo que DOR, nem sempre alegria vai ser o mesmo que ALEGRIA, nem sempre as coisas serão tão literais, nem sempre serão tão metafóricas, nem sempre o que eu disser será o que eu queria ter dito, nem sempre o doce estará doce, nem sempre o saudável fará bem, nem sempre o sorriso será SORRISO, nem sempre o "tudo bem?" será pergunta, nem sempre se conseguirá ficar de pé, nem sempre se conseguirá descansar demais, nem sempre a música terá a mesma nota, nem sempre o vento será o mesmo, nem sempre serão os mesmos sóis. Nem sempre...

Desistir

A partir de segunda voltarei com a dieta, a partir do dia primeiro voltarei com aquele projeto, a partir de 8h da manhã voltarei a estudar, a partir do mês que vem mudarei, a partir do ano que vem começarei minha faculdade, a partir desta tarde retomarei o inglês. Fomos ensinados que precisamos definir metas antes mesmo de sabermos o que são as metas, sendo que a medida que crescemos temos que nos adaptar a um modelo pronto de vida, onde tudo deve seguir o curso ao qual todos seguem. Porém todos nós somos capazes de criar, inventar, fazer nossas próprias regras, então para que se julgar se você se prometeu um prazo diversas vezes e o quebrou. O que realmente importa é não desistir, pois sabemos que algumas vezes só acertamos pela repetição. Pode ser que não seja um prazo futuro, mas o imediato. Adiar sonhos, projetos, expectativas, objetivos é algo que aprendemos, para que possamos "iniciar correto", sendo que o que realmente importa é que concluamos correto.

Justifique-se

Pode ser que não seja, da mesma forma que pode ser.

Pode ser que não queira querer, da mesma forma que o querer queira por si só.

Pode ser que um "bom dia" não seja "bom dia", da mesma forma que o "tudo bem" não é uma real pergunta.

Pode ser que querer escutar tal música não queira dizer nada, da mesma forma que talvez queira.

Pode ser que a falta de sorrisos tenha causa ou motivo, da mesma forma que pode ser apenas uma opção.

Pode ser que já não me importe, da mesma forma que posso me importar mais do que devia.
Pode ser que status não valha nada, da mesma forma que pareça valer mais que muita coisa.
Pode ser que da mesma forma não queira ter que justificar tudo.

Morte

Uma linha tênue entre estar conformado e totalmente desprovido de confiança alguma. Perder aqueles que mais amamos é como uma casa na tentativa de uma demolição, derrubam-se os pilares mais fortes e se espera não precisar quebrar tijolo por tijolo. Mas a verdade é que a morte é como uma granada, como disse Green em "A culpa é das estrelas", inevitavelmente ferimos aqueles que estão próximos quando explodimos. Acontece que amor não se pede de forma alguma, então, de certa forma nos conformamos com as cicatrizes que provavelmente teremos apenas para que possamos viver o amor, para que possamos ter quem amamos. Ter não apenas no sentido de que estejam conosco em todos os segundos, mas ter no sentido de que saibamos que estão ali, disponíveis. Daí suas expectativas se tornam "nada", seus objetivos se tornam "nada", sua rotina se torna "nada", pois nada tem importância, "nada". Afinal de contas que casa tem bons dias após a queda dos maiores de seus pilares? Nenhuma até que consiga novos pilares.